A Síndrome de Irlen é um tema muito controverso e que vem ganhando cada vez mais espaço nos consultórios oftalmológicos, especialmente para quem é oftalmopediatra. Trata-se de uma possível alteração neurológica com manifestações heterogêneas e que cursa com dificuldades na leitura, aprendizado e compreensão de textos.
Ela causaria dificuldades nas atividades escolares, pois promove imagens desfocadas, distorções gráficas, trocas de palavras, dificuldades de acompanhar as linhas do texto, distração, desconforto ocular, irritabilidade, dores de cabeça, etc.
O tratamento proposto seria o uso de lentes e filtros coloridos sobre os textos que melhorariam o contraste e consequentemente facilitariam o processo de leitura. O uso desses filtros tem sido exposto amplamente pela mídia e alguns especialistas que aceitam a existência da síndrome.
Vendidos por uma única empresa esses filtros podem custar mais de R$1.000. Já a prescrição de óculos com lentes coloridas é enviada para confecção nos Estados Unidos e custam em média de 5 a 6 mil reais.
Não existem, no entanto, estudos bem delineados que comprovem sequer a existência da síndrome de Irlen. Existem sim alguns estudos em revistas internacionais importantes mostrando a ineficácia do uso dos filtros coloridos no tratamento da suposta síndrome.
As principais entidades médicas nacionais e mesmo mundiais não reconhecem a existência da síndrome.
O Conselho Federal de Medicina (CFM) emitiu um parecer afirmando que a síndrome de Irlen é controversa e que “faltam evidências científicas que justifiquem a prescrição das referidas lentes e óculos”. A Academia Americana de Oftalmologia (AAO) reforçou a falta de estudos comprovando a eficácia de terapias visuais e uso de lentes e filtros. A Academia Americana de Pediatria também se manifestou afirmando que “não há evidências científicas que suportem os benefícios do uso de filtros ou lentes coloridas para o tratamento de distúrbios de aprendizagem. Não há evidências válidas de que pacientes que usam esse tipo de tratamento respondem melhor ao aprendizado do que aqueles que não as utilizam”.
Segundo a Dra Dayane Issaho, Oftalmopediatra e especialista em Estrabismo pela Universidade Federal de São Paulo e University of Texas Southwestern (EUA), o uso de lentes coloridas para tratamento da dislexia e outros distúrbios que afetam a aprendizagem deve ser revisto. “É um tratamento que não é reconhecido por nenhuma entidade médica mundialmente já que falta evidência científica da existência da síndrome e do poder de resolutividade do tratamento proposto com filtros coloridos. O tratamento de distúrbios de aprendizagem e de dislexia deve ser multidisciplinar e não somente pelo oftalmologista. Com base em toda a falta de comprovação científica até o presente momento, recomendo aos pais e familiares de pacientes com qualquer distúrbio de aprendizagem que tenham muita cautela ao depositarem tempo, dinheiro e esperanças em tratamento controversos”.
A recomendação é consultar um oftalmopediatra para avaliar se há erros refrativos (miopia, astigmatismo ou hipermetropia), estrabismo, irregularidades na anatomia da córnea (ceratocone) ou qualquer alteração ocular que possa prejudicar o bom funcionamento visual.
A investigação e o tratamento da dislexia e de qualquer transtorno de aprendizagem requer uma abordagem multidisciplinar com neuropediatras, psiquiatras e pedagogos. Qualquer tratamento para dificuldade de aprendizado deve ser cientificamente estabelecido para ter validade na prática médica. São situações complexas e que não apresentam soluções simples, como somente a utilização de filtros para a leitura.
Paciência e carinho com as crianças são algumas das características da Dra Dayane Issaho. Ela concluiu a residência médica em Oftalmologia na Universidade Federal do Paraná em 2013. Em 2014 mudou-se para Dallas, nos Estados Unidos, para participar de outro fellowship nas áreas de Estrabismo e Oftalmologia voltada para crianças no Children’s Medical Center da Universidade do Texas (UT Southwestern), um dos mais importantes hospitais pediátricos do mundo. Em 2018 concluiu Doutorado e em 2020 pós-doutorado em Oftalmologia e Ciências Visuais pela Universidade Federal de São Paulo.
CRM-PR 27.045 / RQE 2874
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