A visão através dos contrastes

20 de novembro de 2017
contrastes monet
Se buscarmos no dicionário a definição de contraste, o que vamos encontrar será algo como:
  1. grau marcante de diferença ou oposição entre coisas da mesma natureza, suscetíveis de comparação. “entre sonho e realidade”
  2. p.ext. comparação de objetos similares para se estabelecerem as respectivas diferenças; cotejo.
  3. variação nas tonalidades de luz e sombra, claro e escuro, zonas opacas e transparentes em obra plástica, fotográfica, cinematográfica etc.

    A imagem acima exemplifica as definições de contraste.

    A linha superior mostra letras.
    As linhas inferiores também mostram letras.
    O que as distingue é o contraste: maior contraste nas linhas inferiores, mais intensidade, mais definição.
    Você sabia que alterações oculares  (miopia, hipermetropia, astigmatismo, catarata e problemas na retina) podem causar diminuição do contraste?
    A perda de contraste de cores é evidente em obras de arte de grandes nomes da pintura, como Claude Monet.

    A Catarata na arte de Monet

    Claude Monet (1840-1926) foi um dos principais pintores impressionistas. Monet sofreu de catarata e isso afetou de maneira decisiva suas pinturas. Com a catarata atrapalhando sua visão o jeito foi continuar pintando com o auxílio da sua memória, das suas lembranças. A paisagem era a mesma, que ele tanto já tinha visto e pintado, mas as cores e os detalhes já eram outros.
    O diagnóstico de catarata foi feito quando Monet tinha 72 anos, mas os sintomas começaram 10 anos antes. Monet foi operado da catarata do olho direito, mas insatisfeito com o resultado inicial não quis operar o olho esquerdo. O olho esquerdo, apresentava uma densa catarata e não podia ver corretamente os tons de amarelo, violeta e azul. O olho direito, no entanto, podia ver claramente essas cores.
    As pinturas de Monet refletem claramente as alterações que a catarata causaram na sua visão. A percepção das cores mudou muito. Seus brancos, verdes e azuis começaram a mudar de tons sendo substituídos pelo amarelo e pelo roxo em suas pinturas. Usava uma paleta de laranja-vermelho para paisagens ao invés de um verde-azul. A luz o incomodava e ele só pintava em certas horas do dia, quando a luz lhe permitia trabalhar melhor. Quando ele finalmente conseguiu fazer a cirurgia e obter novamente sua visão, destruiu muitos dos seus trabalhos que fez com a catarata. Suas últimas pinturas antes de sua morte (que ocorreu três anos depois) lembravam seus trabalhos iniciais.
    monet 4 imagens juntas
    A imagem acima foi extraida de um artigo cientifico citado no final do texto. A imagem A é a foto da paisagem nos dias atuais. A imagem B é a famosa pintura de Monet da ponte japonesa em 1899, sem catarata. As imagens C e D são uma simulação da visão de Monet com uma catarata média e com uma catarata avançada.
    Abaixo, seguem as pinturas da ponte japonesa realizada em 1899 e outra realizada em 1918. A diferença de nitidez e de cores causada pela catarata é gritante.
    ponte vermelha catarata monet
    ponte verde catarata monet

    Artigo fonte: Ophthalmology and Art: Simulation of Monet’s Cataracts and Degas’ Retinal Disease. Michael F. Marmor, MDArch Ophthalmol. 2006;124(12):1764-1769

    Hoje em dia não é preciso conviver tanto tempo com a catarata atrapalhando sua visão e nem ter tanto receio da cirurgia como o pintor Monet. Atualmente existe muita tecnologia envolvida na correção cirúrgica da catarata, capaz de proporcionar resultados excelentes.

    Quer saber mais sobre o que é catarata e como é feito o diagnóstico? Acesse nosso post “Catarata – Como eu vejo bem de perto e longe?”.

Dr. Peter Ferenczy

Dr. Peter é formado pela Universidade Federal do Paraná e tem especialização em Oftalmologia pelo Hospital de Clínicas do Paraná. É mestre em Oftalmologia e Ciências Visuais pela Universidade Federal de São Paulo. Se aperfeiçoou no Brasil e no exterior em Cirurgia de Catarata a Laser e Cirurgia Refrativa. É colaborador do serviço de residência do Hospital de Olhos do Paraná, onde atua como médico preceptor e cirurgião. Dedica-se ao aperfeiçoamento científico estando atualizado na comunidade científica e participa dos maiores congressos na área.

CRM-PR 25.014 / RQE 17417

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