Menos telas, mais saúde: quais as orientações do novo manual da Sociedade Brasileira de Pediatria em relação às telas?

27 de março de 2020
uso de telas crianças

No início desse ano, a Sociedade Brasileira de Pediatria divulgou o novo manual de orientação em relação ao tempo de exposição às telas de crianças e adolescentes.  O manual visa promover a saúde e o bem-estar dos pequenos em contato constante com tecnologias digitais, como smartphones, computadores e tablets.

Vários estudos têm demonstrado a urgência desse tema para a sociedade devido aos riscos envolvidos no desenvolvimento de transtornos de saúde mental e problemas comportamentais. A dependência digital já tem até CID (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde). 

Quais foram as recomendações?

  • Evitar a exposição de crianças menores de 2 anos às telas, mesmo que passivamente;
  • Limitar o tempo de telas ao máximo de 1 hora por dia, sempre com supervisão para crianças com idades entre dois e cinco anos;
  • Limitar o tempo de telas ao máximo de 1 ou 2 horas por dia, sempre com supervisão para crianças com idades entre seis e 10 anos;
  • Limitar o tempo de telas e jogos de videogames a 2 ou 3 horas por dia, sempre com supervisão; nunca “virar a noite” jogando para adolescentes com idades entre 11 e 18 anos;
  • Para todas as idades: nada de telas durante as refeições e desconectar 1 a 2 horas antes de dormir;
  • Oferecer como alternativas: atividades esportivas, exercícios ao ar livre ou em contato direto com a natureza, sempre com supervisão responsável;
  • Criar regras saudáveis para o uso de equipamentos e aplicativos digitais, além das regras de segurança, senhas e filtros apropriados para toda família, incluindo momentos de desconexão e mais convivência familiar;
  • Encontros com desconhecidos online ou off-line devem ser evitados; saber com quem e onde seu filho está, e o que está jogando ou sobre conteúdos de risco transmitidos (mensagens, vídeos ou webcam), é responsabilidade legal dos pais/cuidadores;
  • Conteúdos ou vídeos com teor de violência, abusos, exploração sexual, nudez, pornografia ou produções inadequadas e danosas ao desenvolvimento cerebral e mental de crianças e adolescentes, postados por cyber criminosos devem ser denunciados e retirados pelas empresas de entretenimento ou publicidade responsáveis.

Quais são as consequências para a saúde da criança e do adolescente?

As experiências adquiridas por meio das telas – como a agressividade e intolerância manifesta nos jogos e redes –, se não forem melhor reguladas, terão impacto no comportamento e estilo de vida até a fase adulta.

Entre os principais problemas médicos que podem afetar a saúde da população pediátrica, estão:

  • Dependência Digital e Uso Problemático das Mídias Interativas;
  • Problemas de saúde mental: irritabilidade, ansiedade e depressão;
  • Transtornos do déficit de atenção e hiperatividade;
  • Transtornos do sono;
  • Transtornos de alimentação: sobrepeso/obesidade e anorexia/bulimia;
  • Sedentarismo e falta da prática de exercícios;
  • Bullying & cyberbullying;
  • Transtornos da imagem corporal e da autoestima;
  • Riscos da sexualidade, nudez, sexting, sextorsão, abuso sexual, estupro virtual;
  • Comportamentos autolesivos, indução e riscos de suicídio;
  • Aumento da violência, abusos e fatalidades;
  • Problemas visuais, miopia e síndrome visual do computador;
  • Problemas auditivos e PAIR, perda auditiva induzida pelo ruído;
  • Transtornos posturais e músculo-esqueléticos;
  • Uso de nicotina, vaping, bebidas alcoólicas, maconha, anabolizantes e outras drogas.

Quais as consequências para os menores?

Um hábito cada vez mais frequente é oferecer para o bebê o celular utilizado pelos pais, como uma forma de distração passiva. O olhar, a expressão facial, todo esse contato com a família é fundamental para os bebês. Uma fonte presencial de atenção e estímulos não deve ser trocada por telas e tecnologias e é fundamental para o desenvolvimento da linguagem, da cognição e interação social. Atrasos nessas áreas são muito comuns em bebês que ficam passivamente expostos às telas por muito tempo.

E quais as consequências para a visão?

Já discutimos muito por aqui sobre as repercussões negativas das telas para a saúde visual das crianças. Sabemos que quando se trata de problemas oculares como a miopia, contra os fatores genéticos, por enquanto ainda não conseguimos lutar. Mas diante de todos os estudos mostrando a influência do ambiente sobre o erro refrativo, podemos sim tomar medidas que ao menos reduzem a chance e velocidade de progressão.

Estudos mostram que atividades em ambientes fechados e com foco para perto podem estimular o desenvolvimento e a progressão da miopia em pessoas geneticamente predispostas.

Quanto maior o tempo gasto em atividades em ambientes externos, menor o risco de progressão e desenvolvimento desse erro refrativo. Por isso, quando se trata da população infantil, que ainda se encontra em crescimento, é fundamental trabalharmos nos meios comportamentais! Para a miopia, jogar bola é com certeza melhor do que os jogos no iPad ou celular!

Para conferir o manual da SBP na íntegra, clique aqui: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/_22246c-ManOrient_-__MenosTelas__MaisSaude.pdf

Dra. Dayane Issaho

Paciência e carinho com as crianças são algumas das características da Dra Dayane Issaho. Ela concluiu a residência médica em Oftalmologia na Universidade Federal do Paraná em 2013. Em 2014 mudou-se para Dallas, nos Estados Unidos, para participar de outro fellowship nas áreas de Estrabismo e Oftalmologia voltada para crianças no Children’s Medical Center da Universidade do Texas (UT Southwestern), um dos mais importantes hospitais pediátricos do mundo. Em 2018 concluiu Doutorado e em 2020 pós-doutorado em Oftalmologia e Ciências Visuais pela Universidade Federal de São Paulo.

CRM-PR 27.045 / RQE 2874

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